quinta-feira, 2 de maio de 2024

Francisco: “Uma Igreja sinodal tem necessidade dos seus párocos: sem eles, nunca poderemos aprender a caminhar juntos”


Reunidos em Sacrofano de 29 de abril a 2 de maio, os participantes do encontro internacional “Párocos em prol do Sínodo” foram recebidos na Sala do Sínodo pelo Papa Francisco, que dirigiu uma carta a todos os párocos do mundo.

Compromisso e serviço para levar a Igreja adiante

Reconhecendo que “a Igreja não poderia caminhar sem o vosso empenho e serviço”, Francisco começou sua mensagem expressando “gratidão e estima pelo trabalho generoso que diariamente realizais, semeando o Evangelho nos vários tipos de terreno”. O texto fala dos diferentes contextos em que vivem as paróquias, afirmando que os párocos “conhecem de perto a vida do povo de Deus, as suas fadigas e alegrias, as suas carências e riquezas”. Nesta conjuntura, o Papa disse que “uma Igreja sinodal tem necessidade dos seus párocos: sem eles, nunca poderemos aprender a caminhar juntos, nunca poderemos embocar aquele caminho da sinodalidade que ‘é precisamente o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milénio’”.

“Jamais nos tornaremos uma Igreja sinodal missionária, se as comunidades paroquiais não fizerem, da participação de todos os batizados na única missão de anunciar o Evangelho, o traço caraterístico da sua vida. Se as paróquias não forem sinodais e missionárias, também a Igreja não o será", enfatizou o Papa. Relembrando o que foi dito no Relatório Síntese da Primeira Sessão da Assembleia Sinodal, ele ressaltou que as paróquias estão a serviço da missão, vendo a necessidade de que “as comunidades paroquiais se tornem cada vez mais lugares donde partem como discípulos missionários os batizados e aonde regressam, cheios de alegria, para partilhar as maravilhas operadas pelo Senhor através do seu testemunho”.

Ele pediu aos párocos que acompanhem as comunidades às quais servem e que se comprometam com “a oração, o discernimento e o zelo apostólico, empenhar-nos por que o nosso ministério seja adequado às exigências duma Igreja sinodal missionária”. Para isso, ele vê a necessidade de ouvir o Espírito e redescobrir o fundamento de sua missão: “anunciar a Palavra e reunir a comunidade na fração do pão”.



Três recomendações

Francisco fez três recomendações aos párocos: viver cada vez mais seu carisma ministerial específico a serviço das muitas formas de dons difundidos pelo Espírito entre o Povo de Deus; aprender e praticar o discernimento comunitário, elemento-chave da ação pastoral de uma Igreja sinodal; intercâmbio e fraternidade entre os sacerdotes e com seus bispos, ser filhos e irmãos para serem bons sacerdotes, viver a comunhão para serem autênticos pais.

Enfatizando a necessidade de ouvir as vozes dos párocos em preparação para a segunda sessão da Assembleia Sinodal, convidou os participantes do encontro “Párocos em prol do Sínodo” a “serem missionários de sinodalidade nomeadamente entre os seus irmãos párocos, quando regressarem a casa, animando a reflexão sobre a renovação do ministério de pároco em chave sinodal e missionária”.



CARTA DO PAPA FRANCISCO AOS PÁROCOS 

Queridos irmãos párocos!

O Encontro Internacional «Os Párocos em prol do Sínodo» e o diálogo com quantos nele tomam parte dão-me ocasião para recordar, na minha oração, todos os párocos do mundo a quem dirijo, com grande afeto, estas palavras.

De tão óbvio que é, quase parece banal afirmá-lo, mas isso não o torna menos verdadeiro: a Igreja não poderia caminhar sem o vosso empenho e serviço. Por isso quero começar por vos exprimir gratidão e estima pelo trabalho generoso que diariamente realizais, semeando o Evangelho nos vários tipos de terreno (cf. Mc 4, 1-25).

Como se pode verificar nestes dias de partilha, as paróquias, onde realizais o vosso ministério, encontram-se em contextos muito diversos: desde paróquias situadas nas periferias das grandes cidades – conheci-as por experiência direta em Buenos Aires – até paróquias vastas como províncias nas regiões menos densamente povoadas; desde as localizadas nos centros urbanos de muitos países europeus, onde antigas basílicas acolhem comunidades cada vez mais pequenas e envelhecidas, até àquelas onde se celebra debaixo duma grande árvore, misturando-se o canto dos pássaros com as vozes de tantas crianças. 

Os párocos conhecem tudo isto muito bem… Conhecem de perto a vida do povo de Deus, as suas fadigas e alegrias, as suas carências e riquezas. É por isso que uma Igreja sinodal tem necessidade dos seus párocos: sem eles, nunca poderemos aprender a caminhar juntos, nunca poderemos embocar aquele caminho da sinodalidade que «é precisamente o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milénio».[1]

Jamais nos tornaremos uma Igreja sinodal missionária, se as comunidades paroquiais não fizerem, da participação de todos os batizados na única missão de anunciar o Evangelho, o traço caraterístico da sua vida. Se as paróquias não forem sinodais e missionárias, também a Igreja não o será. A este respeito, é muito claro o Relatório de Síntese da Primeira Sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos: as paróquias, a partir das suas estruturas e da organização da sua vida, são chamadas a conceber-se «principalmente ao serviço da missão que os fiéis levam por diante no interior da sociedade, na vida familiar e laboral, sem se concentrar exclusivamente nas atividades que se desenrolam no seu interior e nas suas necessidades organizativas» (8, l). Por isso, é preciso que as comunidades paroquiais se tornem cada vez mais lugares donde partem como discípulos missionários os batizados e aonde regressam, cheios de alegria, para partilhar as maravilhas operadas pelo Senhor através do seu testemunho (cf. Lc 10, 17).

Como pastores, somos chamados a acompanhar neste percurso as comunidades que servimos e, com a oração, o discernimento e o zelo apostólico, empenhar-nos por que o nosso ministério seja adequado às exigências duma Igreja sinodal missionária. Este desafio diz respeito ao Papa, aos Bispos, à Cúria Romana e naturalmente também a vós, párocos. O Senhor que nos chamou e consagrou convida-nos, hoje, a pôr-nos à escuta da voz do seu Espírito e a mover-nos na direção que Ele nos indica. Duma coisa, podemos estar certos: não nos deixará faltar a sua graça. Ao longo do caminho, descobriremos também como libertar o nosso serviço de tudo aquilo que o torna mais cansativo e descobrir o seu núcleo mais autêntico: anunciar a Palavra e reunir a comunidade na fração do pão.



Exorto-vos, pois, a acolher este chamamento do Senhor para serdes, como Párocos, construtores duma Igreja sinodal missionária, empenhando-vos com entusiasmo neste caminho. Com tal objetivo, gostaria de formular três sugestões que poderão inspirar o estilo de vida e de ação dos pastores. 

1. Convido-vos a viver o vosso carisma ministerial específico cada vez mais ao serviço dos dons multiformes semeados pelo Espírito no povo de Deus. Urge, pois, perscrutar com o sentido da fé, reconhecer com alegria e promover com diligência os carismas multiformes dos leigos, tanto os mais modestos como os mais altos (cf. Conc. Ecum. Vat. II, Decr. Presbyterorum Ordinis, 9), que são indispensáveis para se poder evangelizar as realidades humanas. Estou convencido de que assim fareis surgir muitos tesouros escondidos e encontrar-vos-eis menos sós na grande missão de evangelizar, experimentando a alegria duma genuína paternidade que não sufoca nos outros, homens e mulheres, suas muitas potencialidades preciosas, antes fá-las sobressair.

2. De todo o coração, vos sugiro que aprendais e pratiqueis a arte do discernimento comunitário, valendo-vos para isso do método da «conversação no Espírito», que muito nos ajudou no percurso sinodal e na condução da própria Assembleia. Estou certo de que podereis colher abundantes frutos não só nas estruturas de comunhão, como o Conselho Pastoral Paroquial, mas também em muitos outros campos. Como nos recorda o já citado Relatório de Síntese, o discernimento é elemento-chave da ação pastoral duma Igreja sinodal: «É importante que a prática do discernimento seja realizada também em âmbito pastoral, de modo adequado aos contextos, para iluminar a concretude da vida eclesial. Com esta prática será possível reconhecer melhor os carismas presentes na comunidade, confiar com sabedoria tarefas e ministérios, projetar à luz do Espírito os caminhos pastorais, indo para além da simples programação de atividades» (2, 1).

3. Por fim, gostaria de vos recomendar que coloqueis na base de tudo a partilha e a fraternidade entre vós e com os vossos Bispos. Esta solicitação ressoou forte no Convénio Internacional para a Formação Permanente dos Sacerdotes sobre o tema «Reaviva o dom de Deus que está em ti» (2 Tim 1, 6), realizado no passado mês de fevereiro aqui em Roma, com a participação de mais de oitocentos bispos, sacerdotes, consagrados e leigos, homens e mulheres, comprometidos neste campo, representando oitenta países. Não podemos ser autênticos pais, se não formos, antes de tudo, filhos e irmãos. E não seremos capazes de suscitar comunhão e participação nas comunidades que nos são confiadas se, primeiro, não as vivermos entre nós. Bem sei que, na sucessão das incumbências pastorais, este compromisso poderá parecer lateral ou até uma perda de tempo, mas realmente é verdade o contrário: de facto só assim somos credíveis e a nossa ação não desperdiça o que outros já construíram.

Não é só a Igreja sinodal missionária que precisa dos párocos, mas também o caminho específico do Sínodo 2021-2024 que tem por tema «Em prol duma Igreja Sinodal. Comunhão, participação, missão», em vista da Segunda Sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que se vai realizar no próximo mês de outubro. Para prepará-la, precisamos de escutar a vossa voz.

Por isso, convido quantos participaram no Encontro Internacional «Os Párocos em prol do Sínodo» a serem missionários de sinodalidade nomeadamente entre os seus irmãos párocos, quando regressarem a casa, animando a reflexão sobre a renovação do ministério de pároco em chave sinodal e missionária e, ao mesmo tempo, permitindo à Secretaria Geral do Sínodo recolher a vossa imprescindível contribuição para a redação do Instrumentum laboris. A escuta dos párocos era o objetivo deste Encontro Internacional, mas não pode terminar hoje: precisamos de continuar a ouvir-vos. 

Queridos irmãos, estou ao vosso lado neste caminho que também eu procuro percorrer. De coração vos abençoo a todos, e por minha vez preciso de sentir a vossa solidariedade e o apoio da vossa oração. Confiemo-nos à Bem-aventurada Virgem Maria Odighitria: Aquela que indica a estrada, Aquela que nos leva até ao Caminho, à Verdade e à Vida.

Roma, São João de Latrão, 2 de maio de 2024.

FRANCISCO



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Os direitos trabalhistas são um direito para todo trabalhador


A Lei e sua aplicação nem sempre caminham de mãos dadas, e isso deve nos preocupar, pois quando isso acontece os mais prejudicados são os pequenos. Os direitos trabalhistas, que hoje fazem parte da vida do mundo laboral, são fruto de lutas históricas, que nem sempre avançaram de modo adequado, algo que demanda a implicação de todos e todas para continuar num caminho que ainda está longe da meta.

No Brasil, a informalidade, a falta de garantia dos direitos trabalhistas é uma realidade que todos conhecemos, mas que assumimos como algo que não tem outro jeito. Desse modo fazemos com que as condições laborais piorem e o sofrimento dos trabalhadores aumente a cada dia. Muitos trabalhadores e trabalhadoras sofrem com o desrespeito de seus direitos, mas se calam para evitar sua demissão.

1º de maio é uma data histórica de luta pelos direitos trabalhistas e a Igreja católica quis apoiar essas demandas com a celebração da memória de São José Operário. Ao longo de mais de cem anos, a Doutrina Social da Igreja tem refletido sobre a realidade do trabalho e suas condições, ajudando assim a dar passos que ajudem para concretizar melhores condições de trabalho mundo afora, também no Brasil.



A tecnologia está fazendo com que a realidade laboral mude de forma rápida e radical. O modo de trabalhar em muitos espaços é completamente diferente, diminuindo a necessidade de mão de obra, que é substituída por outros elementos e mecanismos. A contribuição humana vai perdendo espaço e isso tem que nos levar a refletir, pois o trabalho é instrumento fundamental de geração de renda para grande parte da população mundial. A falta de trabalho tem como consequência a falta de recursos para a sobrevivência das pessoas.

Como garantir o trabalho para a população e como fazer com que esse trabalho se desenvolva em condições que respeitem os direitos trabalhistas? Como ajudar para que quem trabalha possa encontrar a plenitude, a felicidade, a realização pessoal naquilo que faz? O que fazer para acabar com a exploração laboral e a falta de garantia de direitos trabalhistas?

Denunciar a exploração trabalhista, uma realidade próxima de nós, é uma obrigação que não podemos deixar de lado. Cobrar do poder público a garantia daquilo que a lei proclama tem que ser um empenho para que a cidadania possa avançar. Sejamos conscientes de que a sociedade avança quando todos e todas nos empenhamos para que assim seja, e para isso, garantir os direitos trabalhistas tem que ser uma demanda comum, que nos aproxima dos pequenos, daqueles que sempre ficaram para trás e nunca foram tratados como gente.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

quarta-feira, 1 de maio de 2024

Hugo Barbosa Alves ordenado diácono na Arquidiocese de Manaus: “Não pode ser chamado de mestre e guia quem não possui a eloquência do serviço"


No dia em que a Igreja faz memória de São José Operário, a paróquia Nossa Senhora Aparecida e SSantos Mártires de Presidente Figueiredo acolheu a ordenação diaconal do seminarista Hugo Barbosa Alves. Uma celebração que contou com a presença de seus amigos e familiares, dentre eles seu pai, diácono permanente na Arquidiocese de Manaus, seminaristas, diáconos, presbíteros, Vida Religiosa, do arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Steiner, e dos bispos auxiliares, dom Tadeu Canavarros e dom Zenildo Lima, que foi o bispo ordenante.

Dom Zenildo iniciou sua homilia citando o texto do Evangelho de Mateus: “O maior dentre vós, deve ser aquele que vos serve!”, escolhido como lema da ordenação por Hugo Barbosa. Ele destacou que “esta afirmação constitui um desfecho, ao menos nesta perícope, do discurso áspero que Jesus profere diante do empobrecimento da dinâmica do serviço, desgastada por um discurso revestido de legalidade, mais que isso, de legalismos, porém, sem a força de envolver qualquer que seja o interlocutor em uma adesão que sinalize o reencontro com a Aliança”.

Segundo o bispo auxiliar, “o fracasso dos fariseus, aos quais Jesus se refere neste contexto, consiste na incapacidade de infundir no povo a esperança na fidelidade de Deus. Fora da dinâmica do serviço o agir humano parece um fardo injusto proposto por pessoas descomprometidas que se escondem atrás de discursos, imagens, estereótipos, formalismos legais e religiosos, mas sem a capacidade de se apresentarem como referências, como guias ou mestres. Não pode ser chamado de mestre e guia quem não possui a eloquência do serviço”.



Lembrando àquele que ia ser ordenado a frase do evangelho, dom Zenildo Lima disse ver nela um elemento “para construir tua compreensão e comprometimento com este ministério que a Igreja te confia”, destacando o papel da Igreja de Manaus como Igreja servidora, afirmando que “teu ministério será tanto mais perpassado por esta dinâmica do serviço quanto mais for inserido na identidade desta Igreja Local, Igreja servidora. Podemos chamar isto de incardinação, que não é só um processo canônico, ritual, jurídico, mas encarnatório”.

Nas palavras de Jesus, o bispo auxiliar destacou a crítica aos “líderes religiosos que foram como que se constituindo em uma casta que arroga para si a autoridade de ensino”, mas também as palavras “aos seus discípulos que saboreiam a alegria do serviço, testemunhada na vida amorosa de Jesus”. Igualmente, ele ressaltou que “são recomendações aos cristãos de todos os tempos”, fazendo um apelo a se deixar “deleitar com a alegria do serviço” a imagem de Jesus, “servo por excelência”.

O bispo ordenante ressaltou alguns elementos da primeira leitura, que apresenta “o serviço da morada de Deus”, destacando o papel dos levitas como aqueles que “em tempos de cativeiro ajudaram o povo a não esquecer suas histórias”, como aqueles que fizeram que “o serviço ao templo, o serviço à morada de Deus, se fez sobretudo um serviço à memória”. Ele fez um chamado ao novo diácono a ao “zelo pela memória do agir de Deus que nunca abandona o seu povo”.



Por isso lhe pediu ser “um diácono atencioso para com todo sinal que remete ao povo a fidelidade de Deus”, evitando “os estereótipos das faixas largas e longas franjas como tem sido a tentação de visibilidade nestes tempos de força de imagens”, e sendo “muito atento com o espaço sagrado”, e ajudar nosso povo a “não perder de vista a experiência da morada de Deus, ou ainda, que Deus mora no meio de nós”. Uma morada de Deus que se concretiza nos pobres, que faz com que “toda vez que este serviço se dirige a um dos pequeninos é o próprio Deus que é servido”.

“O diaconato não é um ministério de gavetas desconexas, mas um agir dimensionado perpassado pelo serviço”, destacou o bispo auxiliar, que lembrou a vida do novo diácono, oferecida por seus pais, seu Francisco e dona Antonieta. Falando do celibato, dom Zenildo o definiu como algo que “sinaliza a totalidade de uma entrega; trata-se da escolha de um modo mais intenso de vivência dos afetos que transcendem a necessidade das correspondências interpessoais e se manifesta numa experiência que quanto mais aponta para a totalidade da entrega, mas se revela realizadora de nossa humanidade. Vida celibatária e serviço estão fecundamente interligados”, insistindo na necessidade de ser realizado no amor.

O novo diácono foi advertido sobre o perigo do descompasso entre o discurso e a práxis, que “esvazia a força da Palavra”, um elemento importante, pois “o ministério diaconal se realiza como ministério de Palavra, da Palavra, da Palavra encarnada, da Palavra feita vida, e vida doada até o fim. Da palavra que se fez carne e fazendo-se carne, fez-se também serviço”. Lembrando que “a palavra em Jesus contrasta absurdamente com a palavra dos mestres da Lei”, que “Jesus fala como quem tem autoridade!”, citou as palavras de Papa Francisco com relação à autoridade como ajuda.



Daí a importância de servir como quem tem autoridade, algo que tem a ver com o testemunho. “Os discursos parecem estar em constantes batalhas; há uma disputa de narrativas; carecemos de seguranças e corremos o risco de nos atracar no porto do que poderia parecer a segurança da palavra apresentada em forma de ideias, conceitos, doutrinas. Mas estas por sua vez tem sofrido o confronto e a exigência de uma humanidade distanciada da Aliança”, disse dom Zenildo Lima, comentando o texto de Romanos 10,14-16, destacando que “a pregação é acompanhada de um peregrinar! Na raiz de todo serviço da Palavra está um testemunho missionário”.

“Seja convincente em seu testemunho”, ressaltou o bispo ordenante àquele que ía ser ordenado diácono. Lembrando a exortação de Paulo a Timóteo, dom Zenildo destacou alguns elementos: cuida do teu exemplo na palavra, na conduta, na caridade, na fé, na pureza. Dedica-te à leitura, ao estudo, ao aprofundamento, ao discernimento, à exortação, ao ensino. Lembra-te que este ministério que te é dado pela imposição das mãos o é também por indicação da profecia. Cuida de ti mesmo e daquilo que ensinas. Mostra-te perseverante!”. Igualmente lembrou que “o rito da Ordenação Diaconal te pede de acreditar no que lês, ensinar o que acreditas e viver o que ensinas – a eloquência do serviço”.

Dom Zenildo Lima descreveu o serviço diaconal como um serviço que reconstrói laços. Frente à atitude dos fariseus, ele destacou que “o resgate da fraternidade apresenta-se como a mais urgente tarefa diaconal para os nossos tempos. Poderíamos falar de uma diaconia da fraternidade”. Frente aos pesados fardos da lei e da religião chamou a oferecer a leveza de seu convívio para apresentar a pessoa de Jesus. “A leveza tão necessária para quem suporta o peso da dor, da pobreza, do descarte, do abandono, da discriminação, da guerra, da solidão, do medo, da depressão”, disse dom Zenildo.



“Aqui está o que se pede de ti Hugo”, enfatizou o bispo auxiliar, “o que é pedido a cada um de nós também: o diaconato da sagrada morada de Deus e as realidades nela implicadas, o diaconato da Palavra cuja eloquência se manifesta no alegre testemunho, no diaconato da fraternidade que socorre os pobres à medida em que reconstrói fraternidade”. Ele lhe convidou a deixar ressoar o convite vocacional, lhe lembrando que como parte do clero da Arquidiocese de Manaus, “teu ministério estará ligado ao teu bispo que preside um corpo ministerial que por sua vez só tem razão de existir para o serviço do povo de Deus”.

O novo diácono foi convidado a assumir seu ministério “sem medo e sem preguiça”, lembrando que “o serviço é laborioso”, e que o dia da “memória do carpinteiro de Nazaré e na memória da resistência das lutas de tantos homens e mulheres pela dignidade do trabalho nos recorda que o serviço não é um hobby, um passatempo, uma filantropia..., mas um envolvimento amoroso, laborioso, empenhado, comprometido com o Reino de Deus”.

Finalmente o convite “para que nos abaixemos junto dos que estão caídos, para ajudá-los a levantar”, recordando que “o rito da Ordenação te pede de prostrar-se por terra, até o humus. Deixa-te humilhar e prostra-te até o humano desfigurado. Não tenha medo Hugo, pois quem se exalta será humilhado, mas aquele que se humilha será exaltado”.

Uma celebração que foi oportunidade para o novo diácono, que reconheceu que “tudo em minha vida é providência divina”, agradecer a todos aqueles que lhe acompanharam em sua vida e em sua caminhada vocacional.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

segunda-feira, 29 de abril de 2024

Diocese de Coari realiza a 4ª Assembleia diocesana da Pastoral Familiar


A diocese de Coari realizou de 26 a 27 de abril de 2024, na paróquia Sant’Ana e São Sebastião, na cidade de Coari, a 4ª Assembleia diocesana da Pastoral Familiar. O tema central foi: “O Itinerário Vivencial de Acompanhamento Personalizado para o Sacramento do Matrimonio “.

O encontro contou com a participação de 60 agentes da Pastoral Familiar, representando as paroquias da diocese, e foi iniciado com uma celebração eucarística na comunidade São Francisco, presidida pelo bispo diocesano, dom Marcos Piatek. O casal coordenador nacional da Pastoral Familiar, Alisson e Solange Schila, enviou uma mensagem todos especial para os participantes da assembleia.

A assembleia foi preparada pelo casal coordenador diocesano da Pastoral Familiar na pessoa o casal de Moises e de Eliane e pelo assessor eclesiástico da Pastoral Familiar o Pe. Elcivan. A assembleia foi marcada pelos momentos de avaliação, de reflexão, de planejamento e de estudo. Segundo om Marcos Piatek, “caminhando juntos vamos, em clima de comunhão e de participação, realizar a nossa missão evangelizadora no meio das famílias”.



A apresentação do tema central da assembleia contou com a assessoria do casal Francisco e Lucia da Arquidiocese de Manaus, o que é motivo de gratidão, segundo sublinhou o bispo diocesano. Os participantes também puderam conhecer, com a assessoria do padre Fabiano Kleber, assessor jurídico da Câmara Eclesiástica da diocese de Coari, questões ligadas com a Nulidade Matrimonial.

O bispo diocesano destacou que “a assembleia foi frutuosa e serviu para motivar e formar os agentes pastorais para que possam desempenhar seu papel de forma eficaz e compassiva, promovendo a participação ainda mais ativa nas nossas paroquias da diocese em prol das famílias”. Dom Marcos Piatek lembrou as palavras do Papa Francisco: “As famílias constituem o primeiro lugar onde nos formamos como pessoas e, ao mesmo tempo, são os ‘tijolos’ para a construção da sociedade”.

O encerramento da Assembleia aconteceu com a celebração da Eucaristia na Igreja de Santo Afonso. Finalmente, o bispo da diocese de Coari pediu “que a Sagrada Família de Nazaré nos dê ânimo e força para cumprirmos nossa missão de família evangelizadora no mundo de hoje”.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

domingo, 28 de abril de 2024

Dom Leonardo: “Unidos a Cristo, nos tornamos uvas saborosas e vinho generoso”


Lembrando que “a liturgia pascal continua a nos oferecer o júbilo do Ressuscitado e a frutificação de nossa vida nele”, iniciou o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Steiner a homilia do quinto Domingo da Páscoa, em que “celebramos a alegre e frutuosa união e comunhão com Jesus Cristo. Uma união tão estreita, íntima e profunda como a que existe, entre a videira e seus ramos”.

Dom Leonardo mostrou que “Jesus se apresenta como a videira, o pé de uva, que assegura vida aos ramos, para que eles possam produzir frutos, frutos abundantes e saborosos. Ele a videira à qual estamos ligados, nele nascemos como seus ramos. Seus ramos somos, pois intimamente pertencentes a Ele, caminho verdade e vida. Ele Vida da nossa vida. Sem Ele, nós não vivemos, morremos. Ao permanecer nele recebemos o necessário para permanecer a caminho e, ao mesmo tempo, darmos fruto. Eu sou a videira, diz Jesus. Vivermos da videira e para a videira (Jo 15,1-8)”.

Segundo o arcebispo, “a parábola da videira, é símbolo de força vital, é a imagem, símbolo da beleza e do dinamismo da comunhão de Jesus com os seus discípulos e com cada um de nós”. Ele recordou que “Jesus diz: ‘Eu sou a videira, vós os ramos (Jo 15,5)’, e não ‘Vós sois a videira’. Talvez, Jesus esteja a nos ensinar: assim como os ramos estão ligados à videira, assim também vós estais ligados a mim!” Isso porque “pertencer a Jesus, estar ligado a Jesus, é estarmos ligados uns aos outros. Assim como Cristo nos alimenta com sua vida, somos convidados a alimentar a vida dos irmãos e irmãs. Na imagem da videira nós pertencemos a Jesus e pertencemos uns aos outros. Pertencimento de vida, de vitalidade, de grandeza transformativa”.

Inspirado em Santo Agostinho, o cardeal Steiner lembrou que o santo de Hipona “nos ensina que os ramos estão na videira de tal sorte que em nada a ajudam para comunicar-lhes a vida, mas dela recebem a vida para permanecerem verdejantes e poderem frutificar. A videira está nos ramos para comunicar-lhes a vida, não para receber a vida dos ramos. Assim, tendo a Cristo em si e permanecemos em Cristo. Por isto Cristo acrescenta: “Assim com ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós, se não permanecerdes em mim”. Grande prova em favor da graça! Alenta aos corações humildes e abate os soberbos. Porventura não resistem à verdade aqueles que julgam desnecessária a ajuda divina para praticar as boas obras e, antes de ilustrar sua vontade, precipitam-na? Porque aquele que considera que pode dar fruto por si mesmo certamente não está na videira; e o que não está na videira não está em Cristo; e o que não está em Cristo não é cristão”.



Citando o texto do Evangelho: “Permanecei em Mim e eu permanecerei em vós”, dom Leonardo disse que “o desejo de Jesus de permaneçamos nele é tão forte e insistente que Ele, nessa pequena parábola, usa por onze vezes o verbo permanecer. Sabendo das nossas dificuldades e das nossas infidelidades Jesus insiste: ‘permanecei em mim’. Permanecei em mim na alegria, na realização, na fidelidade, nos sonhos realizados e por realizar; permanecei em mim na tristeza, na frustração, na infidelidade; permanecei em mim na dúvida, na dor, na morte! Permanecei sempre em mim para que eu possa dar-vos a vida; uma vida em plenitude!”. Isso porque “do mesmo modo que o ramo não pode produzir fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós, se não permanecerdes em mim”, citando o texto do Evangelho.

Seguindo as palavras de Papa Francisco, o cardeal disse que “Permanecer na videira, permanecer em Jesus, não é algo passivo. Permanecer é ativo, uma ação de Jesus em nós, e o nosso movimento de permanecermos nele. Ele permanece em nós, jamais se distancia, sempre nos oferecendo a seiva da vida. Trata-se de um permanecer recíproco, como ele nos ensina: ‘Eu e o Pai viremos a ele e nele faremos morada’ (Jo 14,23). Sem a videira os ramos nada podem fazer, pois não recebem a seiva, necessitam da seiva para crescer e dar fruto. Mas também a árvore, a videira, precisa dos ramos, porque os frutos não estão ligados à árvore, à videira, mas aos ramos. É uma necessidade recíproca, é um permanecer mútuo para dar fruto”.

“O desejo de Jesus de que permaneçamos nele vem da verdade de que os ramos estão ligados à planta e dela recebem a vida. Os ramos dependem da videira. Uma dependência benfazeja, gratuita: estamos em Jesus e Ele em nós. Nós, como recebedores, Ele como doador da vida, do amor. Ele, o amor, a agir em nós, a Vida da vida a nos alimentar. Jesus a nos vivificar, transfigurar”, disse o arcebispo. Segundo ele, “É a sua presença em nós: ‘Aquele que permanece em mim, e eu nele, esse produz muito fruto’. Mas também nos darmos conta de que: ‘nada podeis fazer sem Mim’. Ao nos separarmos dele secamos, perdemos o horizonte, o sentido de viver. Vivemos de qualquer forma, nos tornamos ramos secos. Permanecendo em Jesus a nossa vida tem sabor de eternidade”.

Segundo o presidente do Regional Norte1 da CNBB, o permanecer em Jesus é a possibilidade de Deus nos cultivar, cuidar: ‘Todo ramo que em mim não dá fruto, ele o corta; e todo o ramo que dá fruto, ele o limpa, para que dê mais furto ainda’”. Ele lembrou o que nos diz Santo Agostinho: “cultivamos (cultuamos) a Deus e Deus nos cultiva. Mas cultivamos (cultuamos) o Senhor não para torná-lo melhor; cultivamo-lo adorando e não arando. Mas quando ele nos cultiva nos faz melhores, pois sua cultura consiste em não cessar de extirpar com sua palavra todas as más sementes que se arraigam em nossos corações, de abri-lo com o arado da pregação, de nele plantar as sementes de seus mandamentos e de esperar os frutos da piedade”. O cardeal afirmou que Unidos a Cristo, nos tornamos uvas saborosas e vinho generoso. Deus sabe transformar em amor a nossas dificuldades e fraquezas. Decisivo é permanecermos na videira, em Cristo, e nos deixarmos cultivar. Deus, como que trabalhando em nós, nos cultivando e, assim nossa vida ser abundante, até chegar à plenitude”.



Permanecer na videira recebendo a seiva vivificadora e transformativa é a possibilidade de uma vida frutuosa. Nos alimentarmos da Palavra de Deus, da Eucaristia, da seiva que dá vida à comunidade. A seiva da videira nos transforma quando nos deixamos impregnar pelo modo de vida de Jesus, quando somos tomados pelo seu modo misericordioso. A seiva preciosa da misericórdia de que nos fala Jesus no Evangelho de Mateus: estive com fome, e me destes de comer; estive sede, e me destes de beber; fui estrangeiro, e me acolhestes; estava nu me vestistes; estive enfermo, e cuidastes de mim; estive preso, e me visitastes. O que fizestes a um dos menores irmãos, foi a mim que fizestes (cf. 25,35-45)”, afirmou o arcebispo.


Dom Leonardo ressaltou que “permanecer em Jesus, com Jesus, certamente realiza o que vem dito na primeira leitura: A Igreja, consolidava-se e progredia no temor do Senhor e crescia em número com a ajuda do Espírito Santo (cf. At 9,31). As nossas comunidades serão sempre mais a presença da vida do Ressuscitado na medida que se deixa perpassar, fecundar pela seiva da vida nova. Comunidades frutuosas, consolidadas, consoladoras, cuidadoras que levam a vida do Ressuscitado aos que mais necessitam. A comunidade crescerá na medida que a seiva do Ressuscitado alimentar a todos. Em Cristo, todos nós estamos unidos, servindo uns aos outros. Na comunidade, Ele nos sustenta e, ao mesmo tempo, todos os membros se sustentam uns aos outros. Juntos resistimos às tempestades e oferecemos proteção uns aos outros. Não cremos sozinhos, cremos com a Igreja, de todo o lugar e tempo, com a Igreja do Céu e da terra”, inspirado nas palavras de Papa Bento XVI.

Citando o texto do Evangelho: “Nisto meu Pai é glorificado que deis muito fruto e vos torneis meus discípulos”, ele disse que “o que glorifica meu Pai é a abundância de vossos frutos, mas também a fidelidade de serem discípulos de Jesus (cf. Jo 15,8). O convite para permanecer em Jesus se transforma em louvor e bendição! A glória do Pai, a alegria do Pai, que se revela em Jesus, se manifesta quando, em virtude da nossa permanência Nele, frutificamos em virtudes, em cuidado, em bondade, em generosidade, em disponibilidade para que todos tenham vida. A vida do Crucificado-ressuscitado. Por isso, frutificar na caridade, no perdão, na misericórdia, em justiça e paz”.

Ele lembrou que “na segunda leitura, São João nos ensinava: Este é o seu mandamento: nos amemos uns aos outros, de acordo com o mandamento que ele nos deu. Quem guarda os seus mandamentos permanece com Deus, e Deus permanece com ele. (cf. 1Jo 3,23-24)”. Analisando o texto, o cardal disse que “permanecer na videira, ser alimentado pela videira, nos diz São João, é vivermos do mandamento do amor. No amor permanecemos em Deus e Deus em nós. O ensinamento de Jesus, o seu modo de vida e de viver; o seu mandamento do amor! Assim, como a seiva é a fonte da vida dos ramos e das uvas das quais se extrai o vinho que dá saúde, vida e longevidade ao homem, do mesmo modo, Jesus é a alma, o ânimo dos membros do novo Povo de Deus”.

Finalmente, dom Leonardo fez um convite: aproximemo-nos sempre mais de Jesus, deixemos que ele nos fecunde com sua vida, com seu amor. Nele frutificarmos sempre. Sermos sempre ramos viçosos, verdejantes que com frutos saborosos que se transforma em vinho inebriante!”, pedindo que “Deus nos conceda a graça de jamais nos separarmos de Jesus, para que a nossa vida permaneça viçosa e frutuosa”.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1